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“Preconceito de marca” e a ambiguidade do “racismo à Brasileira” no futebol

Tipo
Trabalho acadêmico
Produção
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
2010
Páginas
399
ISBN/ISSN
000
Suporte
Arquivo Digital

Tese de Bruno Otávio de Lacerda Abrahão apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação Física da Universidade Gama Filho como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em Educação Física, sob orientação do Prof. Dr. Antonio Jorge Gonçalves Soares.

Sumário

Introdução p. 1
A interpretação do “preconceito à brasileira” p. 10
Antecedentes: a construção do “outro” p. 10
As teorias racistas no Brasil p. 14
Uma análise histórica do “preconceito à brasileira” p. 20
Oracy Nogueira e a tese do “preconceito de marca”: o caráter ambíguo do “racismo
À brasileira” p. 23
Os estereótipos raciais no futebol p. 29
A ritualização do drama racial brasileiro através do futebol: os jogos “Preto X
Branco” p. 38

Metodologia e apresentação dos capítulos p. 47

Capítulo 1 - O “racismo à brasileira” e as tensões no futebol
Paulista no início do século XX p. 56
A imprensa negra e a discussão sobre o racismo no país da “democracia racial” p. 56
O preconceito à brasileira e as tensões no futebol de São Paulo p. 65
Considerações finais p. 89

Capítulo 2 - A imprensa negra e o futebol em São Paulo
No início do século XX p. 92
A imprensa negra e os procedimentos metodológicos p. 93
O surgimento da Associação Atlética São Geraldo: a imprensa negra e o negro no esporte p. 98

Capítulo 3 - O futebol na construção da identidade nacional: a imprensa e os jogos “Pretos X Brancos” p. 127
Os significados do “Preto X Branco” p. 133
O tema “Violência X Civilidade” através dos jogos “Preto X Branco” p. 168
O elogio ao desempenho dos negros no “Preto X Branco” p. 174
Friedenreich e a personificação da ambiguidade da identificação racial no Brasil p. 184

Considerações finais p. 200

Capítulo 4 - Os jogos “Preto X Branco” e a ambiguidade do “racismo à brasileira” no futebol
Introdução p. 206
As fontes sobre o jogo “Preto X Branco” p. 218
A memória sobre o “Preto X Branco” p. 222
A discussão atual sobre o tema racial na cultura brasileira a partir da idealização do jogo “Preto X Branco” p. 229
Apresentando o “Preto X Branco” p. 237
A tradição e a rivalidade do “Preto X Branco” p. 271
Uma leitura do critério de identificação racial brasileiro através do “Preto X Branco” p. 282
A discussão sobre o racismo através do jogo “Preto X Branco” p. 306
O mito identitário da democracia racial no “Preto X Branco” p. 320
Os estereótipos raciais através do “Preto X Branco” p. 325
As essencializações sobre as raças através do “Preto X Branco” p. 341
O significado do “Preto X Branco” para seus protagonistas p. 348
Considerações finais p. 359

Conclusão p. 361

Referências bibliográficas p. 382
Anexos p. 390

Textos

Boa parte dos textos acadêmicos que se ocuparam de compreender as relações raciais no futebol brasileiro não objetivaram reconstruir uma narrativa sobre o racismo a partir de fontes da época em que o futebol foi implantado no país. Ao invés de buscar entender os mecanismos de sua construção ou a lógica interna como operou – e ainda opera – a forma específica de discriminação racial no espaço do futebol, a preocupação daqueles autores, com raras exceções, limitou-se em buscar indícios de racismo, segregação ou em denunciar os preconceitos explicitados. Embora haja uma ampla consciência da existência do racismo
entre os brasileiros, pouco se sabe como ele foi – e ainda é – vivenciado no futebol. Esforços significativos ainda não foram investidos para interpretar como a singularidade do racismo que se desenvolveu no Brasil opera no futebol local. Diante disso, a tese aqui apresentada objetiva analisar o “preconceito de marca” e a ambiguidade do “racismo à brasileira” no futebol. Minha hipótese é a de que o futebol brasileiro desenvolveu moralidades próprias que não deixaram de dialogar com a especificidade do preconceito existente no Brasil. Esta tese está organizada em duas partes. Na primeira delas, realizei uma leitura do “racismo à brasileira” partindo de um artigo publicado por um jornal da imprensa negra que, sem citar nomes ou provas, denunciava o fato de que jogadores de cor escura eram excluídos dos “matches representativos” do estado de São Paulo. Compreender essa tensão é o objetivo do 1º capítulo. Utilizando os escritos da imprensa negra sobre o esporte, no 2º capítulo observei as estratégias utilizadas pelas pessoas de cor da cidade de São Paulo para praticarem futebol e atletismo. Na segunda parte da tese foi analisado um ritual esportivo em particular: os jogos “Preto X Branco”, em dois períodos separados. Entre 1927 e 1939, os jogos eram realizados em São Paulo a cada 13 de Maio. Depois de alguns anos sem ser realizado, o “Preto X Branco” foi retomado e ocorre há 37 anos na periferia de São Paulo. Esses jogos simbolizam a ambivalência do racismo no Brasil. Concluo que a tensão sobre a popularização do futebol em São Paulo refletia o tipo de discriminação que se desenvolveu no Brasil, o “racismo à brasileira”. Ao denunciar que os pretos eram preteridos de participar de alguns esportes, os escritos da imprensa negra revelam uma posição frontalmente contra o “preconceito à brasileira”. A primeira versão do ritual do “Preto X Branco” foi idealizada justamente para contestar esse preconceito. Se o Brasil opera com a lógica do “diferente, mas junto”, como ensinou DaMatta (1990), o “Preto X Branco”, em cada um dos seus contextos, reproduz essa máxima, além de marcar as diferenças pensadas sobre pretos e brancos na cultura brasileira.

ABSTRACT: Much of the academic texts that have dealt with the understanding of race relations in Brazilian football are not aimed to reconstruct a narrative about racism from sources of the time when football was established in the country. Instead of seeking to understand the mechanisms of its construction or the internal of how it worked - and still does - the particular form of racial discrimination within football, the concern of those authors, with rare exceptions, limited to seeking evidence of racism, or segregation in denouncing the explicit prejudices. Although there is broad awareness of the existence of racism among Brazilians, little is known about how it was - and still is - experienced in football. Significant efforts have not been invested to interpret how the singularity of racism that developed in Brazil operates in local football. Given this, the thesis presented here aims to analyze the "prejudice of brand” and the ambiguity of the "Brazilian racism" in football. My hypothesis is that Brazilian football has developed its own moralities which have continued to dialogue with the specificity of the prejudice that exists in Brazil. This thesis is organized into two parts. At first, I did a reading of "Brazilian racism" from a newspaper article published by one of the black press that, not mentioning names or evidence, denounced the fact that African American players were excluded from the "representative matches" of the state of São Paulo. Understanding this tension is the goal of the 1st chapter. Using the writings of the black press about the sport, in chapter 2 I observed the strategies used by African American people in the city of São Paulo to play and practice football and athletics. In the second part of this thesis a sport ritual in particular was considered: the game "Black versus White", in two different periods. Between 1927 and 1939, the games were held in Sao Paulo every May 13. After several years without being held, the "Black versus White” was held and still is, for 37 years now, on poor suburbs around Sao Paulo. These games symbolize the ambivalence of racism in Brazil. I conclude that the stress on the popularity of soccer in São Paulo reflected the type of discrimination that has developed in Brazil, the "Brazilian racism." By reporting that African Americans were unsuccessful to participate in some sports, the writings of the black press reveal a frontal position against the "Brazilian prejudice." The first version of the ritual of "Black versus White" was designed precisely to challenge this prejudice. If Brazil operates with the logic of "different
but together", as taught in DaMatta (1990), the "Black versus White " in each of their contexts, reproduces this maxim, besides marking the differences thought about African Americans and whites in Brazilian culture.
 

Exemplares

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