Estádio do Pacaembu
- Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho
Estádio pertencente à Prefeitura Municipal de São Paulo, administrada pelo Consórcio Allegra Pacaembu através de concessão até 2054. Foi o principal estádio da cidade entre 1940 e 1970, período no qual recebeu eventos como o Campeonato Sul-Americano de Futebol de 1949, a Copa do Mundo de 1950 e os Jogos Pan-Americanos de 1963, além de ser palco dos clássicos paulistas e da Seleção Brasileira em São Paulo. Posteriormente demonstrou sua vocação para receber os mais variados eventos, desde shows épicos como o Hollywood Rock (1992, 1995 e 1996) até recepção ao Papa Bento XVI (2007). Antes de fechar para reformas em fevereiro de 2021, tinha capacidade para 37.952 pessoas (2019), mas seu recorde de público foi de 73.532 no dia 11/12/1977, no jogo Santos F.C. 1X1 S.E. Palmeiras, pelo Campeonato Brasileiro.
Textos
Segundo o historiador João Ferreira, pensar a história do Pacaembu é também pensar a história da popularização do futebol em São Paulo.
No final do século XIX e início do século XX, a cidade de São Paulo experimentava um crescimento urbano e populacional bastante significativo. Para além das mudanças nos espaços físicos da cidade, também os hábitos da população passavam por transformações intensas. A própria transformação do trabalho (aquilo que antes era feito por escravos, passava a ser feito por trabalhadores assalariados) tornava-se um elemento fundamental à configuração da nova noção do tempo entre os habitantes da cidade.
Nesse cenário, surgia a noção de tempo livre e lazer: banhos de rios, piqueniques em parques públicos, touradas no Largo Sete de Abril (atual Praça da República), batuques, festas religiosas, etc., iam sendo incorporados ao dia a dia paulistano. Havia, concomitantemente, um processo mundial, a partir da Inglaterra, de disciplinarização das atividades lúdicas por meio da criação dos esportes, que acabavam por dar certo ordenamento específico e competitivo às variadas atividades lúdicas praticadas.
Dentre os vários modismos esportivos que atingiram a vida paulistana a partir do século XX (como o ciclismo, por exemplo), o futebol emergia e ganhava adeptos como nenhum outro. Inicialmente associado às elites, o esporte ia “libertando-se” desse ranço de classe a partir das décadas de 1920 e 1930, quando passa por um processo de massificação importante relacionado em grande medida ao desenvolvimento da imprensa e do rádio.
As multidões de espectadores que as partidas entre Corinthians e Palestra Itália arrastavam aos campos de futebol atestam a dimensão popular inesperada que o esporte alcançara na cidade. Por conta disso, ao longo destas décadas foi se consolidando no imaginário popular paulistano um “desejo e necessidade inadiáveis”, na formulação de José Miguel Wisnik, de construção de um estádio de grande porte na cidade, capaz de dar conta de acolher as massas apaixonadas por futebol. Segundo João Streapco, “as primeiras idéias documentadas oficialmente para construção de um grande estádio municipal surgiram com vistas à comemoração do I Centenário da Indepedência em 1919”, no entanto, com as rupturas e conflitos políticos entre os clubes nas décadas de 1920 e a crise (cafeeira) político-econômica de 1930, a construção tornou-se inviável neste período.
Aconteceu, no entanto, que com a ascensão de Vargas ao poder, em 1930, duas outras questões se colocavam na ordem do dia quanto à necessidade de construção de um estádio: a possibilidade de auferir lucros com o futebol, uma vez que com a profissionalização regulamentada em 1932, o futebol deixava de ser apenas uma atividade lúdica e convertia-se numa fonte de renda e trabalho; e a gestão dos corpos da população brasileira. A respeito do segundo aspecto, cabe lembrar, que fazia parte do imaginário político da época (para além de Vargas) o entendimento de que uma nação só poderia se fazer forte por meio de uma população com “bons corpos”. Na cidade de São Paulo, a primeira aproximação oficial do Estado com a gestão esportiva foi em 1935 com a criação do Departamento de Cultura da Prefeitura Municipal de São Paulo.
Foi nesse contexto político, esportivo e cultural que em 28 de novembro de 1936, na gestão do prefeito Fábio da Silva Prado, foi lançada a pedra fundamental do estádio do Pacaembu, que integrava um ciclo maior de edificações monumentais pela cidade. O terreno em que o estádio viria a ser construído pertencia originalmente à Copanhia City, empresa de urbanização que detinha lotes à venda na região e buscava a valorização da área.
Em 1938, com a chegada de Prestes Maia à prefeitura de São Paulo, o projeto original das obras foi radicalmente alterado, mantendo, no entanto, seu local de construção preservado. Assim, por meio da incorporação do concreto armado ao projeto arquitetônico, uma série de mudanças foram operadas “a reboque”. Do que resultou o projeto final, destaca-se a existência de um complexo esportivo-cultural que circunda e engloba o estádio, contando com quadra de tênis, espaço para restaurante, ginásio poliesportivo, piscina olímpica, concha acústica para concertos, e espaço para restaurantes. Além disso, é marcante a feição arquitetônica marcada pela ornamentação reduzida ou quase inexistente, pela preferência por linhas geométricas puras e pela harmonia sóbria e rigorosa à maneira dos Clássicos greco-romanos (havia até mesmo uma repica da escultura de Davi de Michelangelo junto ao campo de futebol) – formando, em conjunto, uma espécie de ruptura com as edificações paulistanas anteriores, marcadamente ornamentadas, como, por exemplo, o Theatro Municipal de São Paulo.
Conforme esperado, a inauguração do que era então o maior estádio latino-americano, em 27 de abril de 1940, foi uma cerimônia monumental que contou com a presença de importantes figurões da política nacional, incluindo o presidente do país na época, Getúlio Vargas – gesto, aliás, que demonstrava sua reaproximação com os paulistas.
Segundo João Fernando Ferreira, a festa formava uma imagem bastante significativa dos rumos que a elite política buscava dar ao Brasil: o da massa unida e disciplinada em prol da construção de um Brasil grandioso. As ‘Instruções da Diretoria de Esporte’, publicadas no Estado de São Paulo em 9 de abril de 1940, reforçavam esse sentido: “um grande desfile, como abertura da temporada esportiva a ser realizada no mesmo, fazendo todos os esforços para que seja imponente e que cale profundamente no espírito brasileiro e das Américas, tornando-se digno da opulência do estádio, da operosidade de São Paulo e da glória do Brasil. É o início de uma nova era esportiva”.
No dia seguinte à inauguração, quem tomou o campo foi o futebol, dando início a uma gloriosa parceria entre o estádio e esse esporte. A primeira partida realizada foi entre Palestra Itália, vice-campeão paulista de 1939 e Coritiba, campeão paranaense de 1939, com vitória por goleada dos palestrinos. A data da estreia de Leônidas da Silva pelo São Paulo F.C., vindo do C.R. Flamengo por 200 contos de réis, a maior negociação do futebol brasileiro até aquele momento. Atraiu uma multidão de 71.281 pessoas, consolidando o estádio no imaginário esportivo da cidade. Mas o recorde de público é do jogo Santos F.C. 1X1 S.E. Palmeiras em 11/12/1977, pelo Campeonato Brasileiro daquele ano, que atraiu um total de 73.532 pessoas.
Em 1961, o estádio teve seu nome oficialmente alterado para Estádio Municipal “Paulo Machado de Carvalho”, em homenagem ao chefe da delegação da seleção nacional nas Copas do Mundo de 1958 e 1962.
Anos depois, houve um outro acontecimento importante na vida do estádio: a abertura do Museu do Futebol em 2008. Enfrentando questões relativas à manutenção do projeto arquitetônico original do estádio (tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico - Condephaat - em 1988), o Museu foi instalado numa área de 6900 m² sob a arquibancada norte do estádio, buscando preservar as estruturas originais e pondo aos olhos do visitante a presença do próprio estádio no Museu por meio da visibilidade, quase que por todo o seu espaço, do “avesso das arquibancadas”.
FERREIRA, João Fernando. A construção do Pacaembu. São Paulo: Paz e Terra, 2008.
MUNHOZ, Mauro; WENZEL, Marianne. Museu do Futebol - Arquitetura e requalificação no Estádio do Pacaembu. Editora Romano Guerra, 2012.