Asilo Sampaio Viana
- Azilo dos Expostos da Irmandade da Santa Casa
O Azilo dos Expostos – também conhecido como Asilo Sampaio Viana –, foi uma instituição filantrópica de cuidado às crianças abandonadas na "roda dos expostos", instalada na Santa Casa de Misericórdia, localizada em Campos Elíseos. A entidade, fundada em 1824, era um espaço anexo à Santa Casa, mas em 1895 fora transferida para o espaço da Chácara Wanderley, formando uma sede própria. A mudança de nome para "Asilo Sampaio Viana" foi aprovada em 1935 em homenagem ao diretor do abrigo entre 1902 e 1935.
Textos
O Asilo dos Expostos, também conhecido como Asilo Sampaio Viana [1]funcionava como uma instituição filantrópica e sem fins lucrativos que visava receber e cuidar da demanda de crianças abandonadas na cidade de São Paulo no século XIX. A instituição iniciou suas atividades em 2 de julho de 1825 na Chácara dos Ingleses – conjuntamente à inauguração do Hospital da Caridade –, na gestão de Vicente de Congonhas do Campo, presidente da província de São Paulo e também provedor da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Nesse período, segundo Glauco Carneiro, autor da trilogia "O Poder da Misericórdia", a porcentagem de crianças enjeitadas girava em torno de 17 a 25% do total das faixas etárias mais novas (1986a).
As expressões “expostos” e “enjeitados” eram formas de designar as crianças abandonadas. Um dos principais meios de recolhimento dessas crianças era a “roda dos expostos”. Esse equipamento cilíndrico, fechado por um dos lados, que girava em torno de um eixo e onde as crianças eram deixadas, chegou ao Brasil antes de 1700, na capital Salvador e depois no Rio de Janeiro em 1738 (Carneiro, 1986a). Segundo Carneiro, a roda dos expostos da Santa Casa foi extinta em 1950, sendo a última da qual se teve conhecimento do uso no país.
As crianças deixadas na roda dos expostos recebiam um registro no “Livro de Matrícula”, com informações como dia e horário em que foram recolhidas e qualquer outra informação relevante – se estavam com algum adereço ou bilhete, por exemplo. O responsável pelo registro da criança, chamado de “regente”, era encarregado de cuidar dela até o momento em que fosse entregue à ama de leite. Tanto as amas, quanto os regentes eram pagos para desempenhar tais funções.
O sistema de amas de leite recebia muitas críticas, inclusive a de que as amas eram negligentes em relação aos cuidados com a saúde das crianças. Em 1936, com a inauguração do berçário e do lactário, o sistema não foi mais utilizado. O berçário instalado na Rua Doutor Frederico Steidel, 157, no bairro paulistano de Campos Elíseos, foi a tentativa de viabilizar um local mais adequado para o atendimento e cuidado específico para as crianças mais novas – entre 0 e 3 anos. Em 1945, o berçário e o lactário foram transferidos para a antiga enfermaria do Asilo dos Expostos.
O asilo foi transferido em 1896 para a antiga Chácara de José Maurício Wanderley (Chácara Wanderley), no bairro do Pacaembu, visando propiciar um local mais adequado à habitação das crianças, distanciando-as do ambiente de enfermidade do Hospital Central.
As crianças atendidas pelo Asilo dos Expostos eram divididas em três grupos: meninas, meninos e menores de cinco anos de ambos os sexos. Essa divisão, implementada em 1904, foi adotada com o objetivo de propor projetos educacionais diferenciados a cada grupo, que incluía a qualificação moral e instrução técnica para o uso futuro da força de trabalho (Rocha e Kuhlmann, 2009). Em 1910, na grade escolar das garotas, por exemplo, foram inseridas aulas de bordado e costura, com o objetivo de prepará-las para atuar com serviços manuais e domésticos. Não há registro de que essas aulas também constassem na grade escolar dos meninos.
Segundo Carneiro (1986a), as crianças permaneciam sob os cuidados da Santa Casa da Misericórdia até os 7 anos de idade, quando eram transferidas: as meninas para o Seminário da Glória, e os meninos para o Seminário de Santana. Essa característica variou muito com o passar dos anos de funcionamento da instituição. Segundo Kuhlmann Jr. e Rocha (2006), em 1944, a idade limite para atendimento das crianças era de 12 anos.
Dentre as diversas nomenclaturas que a instituição já recebeu, como “Asilo dos Expostos” e “Asilo dos Enjeitados”, em 18 de junho de 1936, quando a casa estava sob a direção de Dr. Guilherme Dumont Villares, fora aprovada a mudança de nome para “Asilo Sampaio Viana”. O nome prestava uma homenagem ao mordomo Dr. João Maurício Sampaio Viana, diretor da entidade e responsável pelas principais reformas do espaço entre 1903 e 1936, quando veio a óbito.
O Asilo dos Expostos ficou sob responsabilidade da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo até meados dos anos 1963. Em 1967 é criada a Secretaria de Promoção Social do Estado de São Paulo que passou a centralizar todo e qualquer serviço voltado ao atendimento de menores abandonados. Anos depois, mais especificamente em 1974, sob o decreto de nº 3628, a Fundação Paulista de Promoção Social do Menor (Pró-Menor) – que em 1976 foi renomeada para Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (Febem/SP) – foi autorizada a utilizar a área de 46.130,00m² onde funcionou o Asilo Sampaio Viana.
Já tombado, em 2016 o imóvel estava sob a gestão da Fundação Faculdade de Medicina (FFM), que adquiriu o imóvel durante a gestão de Mário Covas, governador de São Paulo, em meados de 2002. Durante esse periodo inaugurou e encerrou as atividades de uma creche que atendia marjoritariamente as crianças filhas dos funcionários das FFM e da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e região.
Referência bibliográfica:
CARNEIRO, Glauco. O Poder da Misericórdia: A Santa Casa na história de São Paulo vol. 1. São Paulo: Press Grafic, 1986a.
CARNEIRO, Glauco. O Poder da Misericórdia: A Santa Casa na história de São Paulo vol. 2. São Paulo: Press Grafic, 1986b.
KUHLMANN JR., Moysés, ROCHA, José Fernando Teles da Rocha. Educação no Asilo dos Expostos da Santa Casa em São Paulo: 1896-1950. Cadernos de Pesquisa, v.36, n.129, p.597-617, set./dez. 2006. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0100-15742006000300005&lng=en&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 12 jan. 2017.
ROCHA, José Fernando Teles da Rocha, KUHLMANN JR., Moysés. Aspectos das práticas pedagógicas no Asilo dos Expostos da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo: 1902-1950. Cadernos de História da Educação, v. 6, n. 1, p. 157-172, jan./jun. 2009. Disponível em: http://www.seer.ufu.br/index.php/che/article/view/2282/1869. Acesso em: 12 jan. 2017.
Decreto nº 3628. Disponível em: http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/decreto/1974/decreto-3628-07.05.1974.html. Acesso em: 12 de jan. 2017.
[1]A grafia varia de acordo com cada época em que se encontra documentações sobre o local: em jornais de 1910 há matérias a respeito da entidade em que a grafia usada é “asylo”, em outros documentos “azilo”. O mesmo acorre com o sobrenome 'Viana', ora com um N, ora com dois.