Rose do Rio
- Roseli Cordeiro Filardo
Textos
Rose ganhou esse apelido por estar envolvida em um importante episódio que marcou para sempre a história da modalidade, período em que o decreto de lei da proibição já havia caído por terra, mas sem regulamentação, mulheres continuavam a ser boicotadas em campo. Em setembro de 1982, na cidade de São Paulo sediou o Festival Nacional de Mulheres nas Artes organizado por Ruth Escobar. Ruth, atriz e produtora cultural, organizou o festival com o apoio da Revista Nova. Foi, sem dúvida, uma grande amostragem da produção artística feminina nos mais variados campos de atuação.
No dia do encerramento do festival, foram formadas duas seleções, uma do Rio de Janeiro e outra de São Paulo, para jogar no gramado do Estádio do Morumbi. A organização do evento recebeu um Mandato de Segurança e conseguiu contorná-lo atribuindo ao jogo o caráter de “espetáculo” preliminar a partida São Paulo e Corinthians. O tempo do jogo feminino foi diminuído – vinte minutos cada tempo – a fim de descaracterizá-lo como uma partida autêntica. Compareceram 68 mil torcedores na ocasião, e junto com eles um telegrama da Federação Paulista de Futebol proibindo a realização da partida. Segundo depoimento de Rose do Rio, os jogadores teriam apoiado a iniciativa, e Sócrates, um dos líderes da democracia corinthiana, falou em alto e bom som: “O público está aqui para ver o futebol feminino. Não está para ver Corinthians e São Paulo não. Então se elas não entrarem, nós também não vamos entrar!”.
Somente em abril 1983 a CND regulamentou o futebol de mulheres no país através da Deliberação 01/83. Entre as regras estavam: o tempo da partida em 70 minutos com intervalos de 15 a 20 minutos; a bola de diâmetro entre 62 e 66 centímetros e peso máximo de 390 gramas; as jogadoras devem usar chuteiras em travas metálicas ou pontiagudas; e não podem trocar de camisas com as adversárias após uma partida. Essa última regra se deve ao episódio ocorrido no Morumbi, quando Ruth Escobar trocou de camisa com uma das jogadoras da seleção paulista.
Pioneira do futebol feminino no Brasil, em 1983 liderou movimento para que o Conselho Nacional do Desporto retirasse a proibição à prática do futebol feminino. Fundadora da Associação de Futebol Feminino do Rio de Janeiro (AFFERJ) em 1987, também está à frente da Liga Brasileira de Futebol Feminino.