Cláudio Faria Romero
- Vila Maria
Textos
Claudio Romero, popularmente conhecido como Vila Maria, é fundador da Torcida Jovem Camisa 12, torcida organizada do Sport Club Corinthians Paulista, fundada em 08 de Agosto de 1971. Também fez parte do grupo que deu início a Gaviões da Fiel em 1969. O nome de batismo foi uma homenagem dada pelo pai ao ponta-direita corinthiano Claudio Cristóvão Pinho. O pai também foi responsável pela primeira visita a um estádio de futebol, o Maracanã, durante a partida de Corinthians e Bangu, ainda com cinco anos de idade. Com oito ou nove anos já frequentava os estádios sozinho, principalmente o Parque São Jorge - a maioria das vezes ia assistir às partidas escondido, atravessando a modesta ponte que existia sobre o rio Tietê.
Claudio esteve presente nos primeiros encontros que geraram no final da década de 1960 a torcida organizada Gaviões da Fiel. Antes dessa fundação, Vila Maria se recordou da época em que cada um criava a sua própria bandeira e aos poucos esses torcedores se reconheciam na arquibancada e acabavam se conhecendo, trocando telefones, endereços e mais tarde, começaram a fazer encontros. Esses mesmos torcedores compartilhavam da insatisfação quanto à administração do clube alvinegro: o Corinthians passava por um longo jejum de conquistas importantes. A mobilização entre esses torcedores trazia à tona um movimento de oposição a Wadih Helua, responsável pela gestão do clube naquele momento. Em pouco tempo o sentido de “torcida uniformizada” começou a existir quando todos passaram a usar a mesma camisa escrita “fiel” ou de cores combinadas
As garras e a cor preta ajudaram na escolha do animal ‘gavião’ durante a reunião de escolha do nome da primeira torcida organizada do Corinthians, mas outros animais como carcará e dragão surgirão durante a votação. O grupo composto Flavio La Selva, Raul Corrêa da Silva, Alcides Jorge (Joca), Chico Malfitani, Vila Maria e outros se fortaleceu e manteve-se atuante nos jogos sequenciais do Corinthians, ora cantado e incentivando o time, ora se manifestando e saindo dos jogos antes do término das partidas. Gritos como “A fiel cansada, vai embora envergonhada!” ficaram registrados na lembrança de Vila Maria. A organização de excursões de ônibus também foi uma novidade naquele momento; segundo Vila Maria, até aquela ocasião, o transporte até os estádios era realizado majoritariamente através dos trens e ônibus das rodoviárias.
A formação da torcida Camisa 12 surgiu em um contexto nebuloso que incluía torcedores pró e contra o candidato à oposição dentro do clube da época, Vicente Mateus. Após alguns desentendimentos que chegaram a ocasionar na suspensão do então jovem Vila Maria, parte do grupo dissidente da Gaviões da Fiel propôs a criação da nova torcida. Segundo o entrevistado, quase metade dos torcedores organizados mudaram de torcida em 1971.
O nome Jovem da Camisa 12 surgiu influenciado pela propaganda do banco Unibanco “vista a camisa 12 para torcer pelo Brasil”, e dessa forma recebeu a adaptação de “vista a camisa 12 para torcer pelo Corinthians”. A menção “jovem” vem de um modismo da época e muitas torcidas de diferentes clubes assumiram essa palavra. De qualquer forma, o significado de uma torcida representar um torcedor a mais emociona até hoje seu fundador. Com o estatuto formado, os torcedores da recém inaugurada torcida passaram a utilizar a mesma pequena sala dentro do clube do Corinthians inicialmente ocupada pelos Gaviões. A partir de 1972 iniciou-se uma verdadeira peregrinação de espaços que se tornaram sede até chegar ao terreno próximo à marginal que se mantém até os dias atuais.
A Camisa 12 chegou a ultrapassar numericamente a quantidade de associados da Gaviões da Fiel em meados da década de 1970. Ao longo dos anos se comportou de maneira amistosa e por vezes conflituosa com a sua parceira de arquibancadas, relação que incluiu desde brigas às viagens organizadas nos mesmos ônibus.
Vila Maria permanece atuante no universo da torcida pelo time alvinegro. Tornou-se ao longo dos anos um personagem conhecido por toda a cidade e reconhecidos entre lideranças de todo os Brasil. Claudio cedeu o seu depoimento de história oral para o Museu do Futebol em março de 2015, durante o projeto Territórios do Torcer, uma parceria com a Fundação Getúlio Vargas – CPDOC-SP.