Uma camisa de muitas histórias

É uma camisa verde, de mangas compridas, com gola e punhos brancos. Tem cerca de 64cm de altura por 48cm de largura. À frente, do lado direito, estão bordadas três estrelas amarelas e, do lado esquerdo, o escudo com o nome New York Cosmos. Aí ficou fácil. Às costas, a identificação do personagem e aquele número mágico: Pelé 10.

Camisa do Cosmos exposta no Museu do Futebol | Foto: Ademir Takara

Diferente de outras camisas do Rei que possuem dois ou três exemplares (como a da final da Copa do Mundo de 1970, com a do 1º tempo, a do 2º tempo e a da volta olímpica), esta é única! Ele a usou na Sua despedida definitiva do futebol, em 1º de outubro de 1977, quando jogou o 1º tempo pelo já citado Cosmos (enquanto no 2º tempo vestiu a tradicional camisa branca do Santos F.C.). Assim que terminaram os primeiros 45 minutos, Pelé tirou a camisa verde e a entregou para o pai, Dondinho. Aliás, um dos raríssimos jogos Dele que contou com a ilustre presença de seus pais, já que Dona Celeste também estava presente no Giants Stadium, em Nova Jersey, naquele sábado.

Mas não foram só os pais que saíram do Brasil rumo aos Estados Unidos. A própria camisa é made in Brazil, produzida pela Malharia Santa Isabel, localizada no bairro do Belenzinho, Zona Leste de São Paulo, cuja marca Athleta, tornou-se referência em material esportivo no Brasil entre os anos 1950 e 1970. Inclusive fornecendo os uniformes da Seleção Brasileira entre as Copas de 1954 e 1974.

Muito clubes também usavam as camisas produzidas pela confecção paulistana, inclusive o Santos de Pelé, o que acabou aproximando o Rei dos proprietários da empresa. Assim, quando Ele concordou em retomar a carreira de futebolista profissional, não demorou para convencer o time de Nova York a assinar com a Athleta.

Um feito e tanto, uma vez que o próprio camisa 10 tinha contrato pessoal de patrocínio com a Puma, que Lhe fornecia chuteiras com exclusividade, desde a Copa de 1970. Mas no lugar do logo de uma empresa alemã, ou estadunidense, estão as três estrelas amarelas de uma empresa brasileira.

E é claro que a confecção do Belenzinho não perdeu a oportunidade para divulgar o feito alcançado nos jornais.

Propaganda da marca Athleta. | O Estado de S. Paulo, 04 out. 1977, p. 27.

E como se não bastasse tudo isso, a camisa exposta na sala do Museu do Futebol dedicada ao Rei entre novembro de 2024 e abril de 2025  também testemunhou o seu encontro  com outro gigante do esporte mundial, o boxeador Muhammad Ali.

Encontro de titãs, Pelé e Muhammad Ali | Foto Eric Schweikardt | Sports Illustrated via Getty Images.

Entre cumprimentos e elogios, eles conversaram. Muhammad Ali disse a Pelé: “Somos os maiores de todos os tempos”. Pelé respondeu, sorrindo: “Você está certo, somos os maiores” (Jornal dos Sports, 02 out. 1977, p. 12). Errados não estavam.

A camisa foi cedida ao Museu do Futebol por empréstimo através do projeto “Joias da Coroa”, uma iniciativa do Alambrado Futebol e Cultura, comunidade de colecionadores criada por Cássio Brandão.

 

Ademir Takara
Bibliotecário do Centro de Referência do Futebol Brasileiro/Museu do Futebol.

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