De Edson a Pelé: a infância do rei em Bauru
O nome Pelé é automaticamente reconhecido nos mais remotos cantos do planeta. É uma palavra que, como o "Abre-te Sésamo" de Ali Babá, abre portas e supera obstáculos magicamente. Em regiões perdidas e distantes, onde talvez ninguém saiba dizer o nome do Papa, do presidente norte-americano ou do primeiro homem a pisar a lua, o nome de Pelé é imediatamente reconhecido. E não só reconhecido como capaz de produzir surpresa e admiração. Tentando aproximar-se desse mistério, mesmo sem a ilusão de vir a decifrá-lo inteiramente, o escritor e jornalista José Castello faz uma abordagem inédita sobre Pelé. É importante dizer que o livro de Castello não é uma biografia de Edson Arantes do Nascimento. O cidadão Edson nele aparece só muito circunstancialmente, como uma espécie de mensageiro a quem coube encarnar e sustentar o mito Pelé. "Os dez corações do rei" é a história de Pelé. O próprio Edson, ainda hoje, se mostra perplexo e inquieto quando é chamado a falar do personagem que gerou e de alguns dos atributos que ajudaram a construí-lo, como a obstinação, a predestinação, a magia, a coragem e a nobreza. O livro borda, num estilo que remete aos sonhos e às narrativas antigas, uma espécie de manto no qual se costuram não só muitas das histórias que estão na origem do mito, mas também reações, perplexidade e até mesmo exageros que ele foi capaz de provocar ao longo das décadas. O poder fabulador deste mito, a instigar sempre novas lendas e narrativas cada vez mais fantásticas, parece muito longe de se esgotar.