Este objeto de metal tem 52 cm de altura e 30 cm de diâmetro. Na sua base cilíndrica podemos ler a seguinte inscrição: “Torneio Início / Sub Div. Desp. Marechal Deodoro / Oferta M. J. Durão / Campeão 1948”. Logo acima, três figuras masculinas seminuas com um dos braços direitos levantados seguram coroas de louros. Estas, por sua vez, sustentam uma cuba redonda, contendo, de um lado, a inscrição “A.A.R. Nacional” e, do outro, “Taça Getúlio Vargas”.
Trata-se de um troféu, isto é, objeto que simboliza uma conquista, neste caso específico, de um evento futebolístico chamado Torneio Início, competição “criada puramente pelos brasileiros”, suas características únicas eram: reunir todos os times de uma mesma divisão para jogos sequenciais, eliminatórios e de curta duração, com dois tempos de 10, 20 ou 30 minutos. Mas o mais curioso era o critério de desempate: por escanteios cobrados.
A ideia se espalhou por todo Brasil: Minas Gerais e Espírito Santo (1917), Paraná (1918), Pernambuco, Bahia e São Paulo (1919), Ceará (1920), Rio Grande do Sul (1921) e Alagoas (1927). E a várzea não ficou de fora.
Pesquisando no jornal A Gazeta Esportiva, mais precisamente na página “No Mundo do Futebol Amador”, dedicada exclusivamente ao futebol de várzea, encontramos mais informações. Na edição do dia 24 de julho de 1948, consta a notícia da realização, no domingo, do Torneio Início da Sub-Divisão Marechal Deodoro. Aliás, seriam três edições do evento, dois de manhã e um à tarde, realizados em dois campos, envolvendo 30 times.
No dia 29 de julho de 1948, o mesmo diário publicou na sua página varzeana: “A.A.R. Nacional (Bom Retiro), campeã do Torneio Início S.D. Marechal Deodoro”. A competição foi disputada na tarde do domingo no campo do E.C. Sul-Americano e o Nacional estreou eliminando o Corinthians do Bom Retiro por 2 escanteios a 0. Na sequência passou pelo Corinthians da Casa Verde por 1×0 (2 escanteios a favor e nenhum contra) e foi campeão após ganhar da A.A. Filó por 2X0 (3X2 nos escanteios), jogando com Rubens; Natalino e Volponi; Alfredinho, Valdemar e Luizinho; Zequinha, Tide, Zezé, Patim e Valter. Este último foi autor de um dos gols do título (o outro foi contra).
O troféu recebeu o nome de “Taça Getúlio Vargas” e foi uma doação de um certo M.J. Durão. O levantamento realizado pela equipe do Centro de Referência do Futebol Brasileiro, do Museu do Futebol, não alcançou informações mais detalhadas sobre esse personagem. Passados 76 anos da premiação, o troféu foi gentilmente emprestado pela Associação Atlética e recreativa Nacional do Bom Retiro, clube fundado em 1913, para compor a exposição temporária “Vozes da Várzea”, em cartaz no Museu do Futebol entre novembro de 2024 e abril de 2025. Para sua exibição, a peça foi submetida a um cuidadoso processo de restauração, que envolveu tratamento dos pontos de oxidação, higienização e banho de prata, recuperando suas características originais. Além disso, como forma de assegurar uma experiência sensorial e interativa a todos os visitantes, foi produzida uma réplica tátil do item, além da disponibilização de audiodescrição.
Ademir Takara
Bibliotecário do Museu do Futebol
