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Tostão

  • Eduardo Gonçalves de Andrade
  • O Mineirinho de Ouro
Atuação
Atacante

Clubes e Federações

Quando Onde Atuação
1963-1972 Cruzeiro Atacante
1962-1963 América Mineiro Atacante
1966 Seleção Brasileira Copa do Mundo 1966 Atacante
1970 Seleção Brasileira Copa do Mundo 1970 Atacante
1972-1973 Vasco da Gama Atacante

Textos

Quando criança, aos seis anos de idade, Eduardo Gonçalves Andrade, nascido em Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais, Brasil, em 25 de janeiro de 1947, tinha baixa estatura e corpo magro. Ainda assim, com seu talento, já jogava em meio a colegas mais velhos, de nove, dez anos de idade, no Industriários Futebol Clube, time infantil do IAPI, conjunto habitacional em Belo Horizonte onde sua família morava. Pela diferença de tamanho, Eduardo ganhou o apelido que o seguiria: Tostão, referente à menor moeda da época.

Mas a diferença estava no tamanho e não na categoria. Provavelmente, Tostão era o melhor dos garotos do Industriários, em técnica, embora Toró, seu companheiro no Industriários, também causasse furor, sendo lembrado até hoje por Tostão. A primeira apresentação daquele jovem baixinho a chamar atenção para seu talento foi uma vitória do time de bairro sobre o infantil do Atlético Mineiro, campeão estadual da categoria, por 2 a 1.

Aos 13 anos, então, Tostão começou uma sequência mais séria no futebol, atuando no time juvenil de futebol de salão do Cruzeiro. Dois anos depois houve a mudança para o esporte de campo, ainda entre os juvenis do Cruzeiro. Todavia, seu pai, Oswaldo, constante apoiador do Industriários (chegava a dar banana para os garotos do time, para repor a perda de potássio), preferiu levar o filho para o clube do coração, o América. Foi lá que Tostão começou a ser notado.

Um dos que prestaram atenção no jovem foi o presidente do Cruzeiro, Felício Brandi. Já tendo em vista a construção do Mineirão, estádio que deu visibilidade ao futebol de Minas Gerais, Brandi decidiu transformar o clube que presidia no primeiro a aproveitar tal visibilidade. Tostão seria uma das peças fundamentais nisso. O presidente não perdeu tempo: em 1963, chegou ao pai da promessa e ofereceu Cr$ 80 mil para trazê-lo de volta ao Cruzeiro. Proposta aceita, tanto pelo jogador quanto pelo América. Ao levar o dinheiro ao clube, literalmente minutos antes de seu casamento, Felício Brandi garantiu a chegada de Tostão ao Cruzeiro.

Já em 1964 o jovem tornou-se titular da equipe profissional. Em 1965, Mineirão inaugurado, começou a época de glórias. Naquele ano veio o título mineiro, o primeiro de um pentacampeonato. Mas a conquista que provaria em definitivo o valor do futebol que surgia em Minas Gerais surgiu depois, na Taça Brasil/Campeonato Brasileiro. Contando com outras revelações, como Raul Plassmann, Wilson Piazza, Natal e Dirceu Lopes, o Cruzeiro enfrentou o Santos, ainda poderoso, na final.

A partida de ida foi no Mineirão e representou um grande momento da história cruzeirense: vitória de 6 a 2, com Tostão marcando o quinto gol. Porém, ainda havia o jogo de volta, no Pacaembu. E o Santos fez 2 a 0 no primeiro tempo. O jogo parecia certo, mas o Cruzeiro não o permitiu: Tostão marcou o primeiro gol da equipe e participou das jogadas que resultaram no 3 a 2 conseguido no segundo tempo, dando o primeiro título nacional ao clube.

O desempenho estupendo na Taça Brasil rendeu a Tostão a sua primeira convocação para a Seleção Brasileira, e logo para uma Copa do Mundo, ainda naquele 1966, sendo o único atleta do futebol de Minas Gerais a ter ficado na convocação definitiva de 22 jogadores. A eliminação na primeira fase não trouxe críticas a Tostão. Ao contrário: autor de um gol na Copa, contra a Hungria (única partida em que atuou), ele era visto como a grande revelação do futebol brasileiro.

Mantido como titular na Seleção Brasileira, agora com mais companheiros de Cruzeiro, como Dirceu Lopes e Piazza, Tostão, um dos grandes destaques nas eliminatórias para a Copa de 1970, era um dos maiores jogadores do Brasil em 1969. Mas sua trajetória ascendente sofreu um grande baque naquele ano: uma bola chutada pelo zagueiro Ditão, num jogo chuvoso entre o Cruzeiro e o Corinthians pela Taça Brasil, atingiu em cheio o seu olho esquerdo. O diagnóstico veio do doutor Geraldo Queiroga: descolamento de retina.

A presença de Tostão na Copa tornou-se uma incógnita. A operação no olho, inevitável, foi feita em Houston, nos Estados Unidos, pelo médico Roberto Abdalla Moura. Apesar de algumas intercorrências na recuperação, Tostão conseguiu ser aprovado para voltar ao futebol, em abril de 1970. O técnico da Seleção Brasileira mudara: já não era mais João Saldanha, mas Zagallo, que anunciou que Tostão seria reserva de Pelé.

Entretanto, a Fera de Ouro, seu apelido, recuperou a titularidade. Em Guanajuato, no México, já na preparação final para a Copa, sofreu uma hemorragia externa no olho, mas Roberto Abdalla viajou até lá e declarou que não havia problemas que o impedissem de jogar o Mundial. Tostão disse que permitiria o seu corte, mas ficou no time titular. E tornou-se um dos destaques da Seleção na Copa: fez apenas dois gols, mas participou de várias jogadas importantes nas partidas, como no gol de Jairzinho contra a Inglaterra, e no de Clodoaldo contra o Uruguai, na semifinal. Após o gol de Carlos Alberto Torres, que finalizou o placar de 4 a 1 contra a Itália na decisão da Copa, Tostão chorou em pleno campo, ao se lembrar dos problemas médicos que quase o tiraram do torneio.

O ano de 1971 chegou e o Cruzeiro tinha a mesma base que dominava o futebol mineiro e se destacava no futebol nacional. Porém o time perdera os dois campeonatos estaduais mais recentes, e veria o arquirrival Atlético Mineiro se sagrar campeão brasileiro. Felício Brandi decidiu, então, mudar o técnico do time. Orlando Fantoni foi demitido e veio o imponente Yustrich (Dorival Knippel). Jogador bastante informado das questões sociais e mantendo posturas críticas à ditadura militar vigente no Brasil à época, Tostão não se deu bem com a linha autoritária de Yustrich.

Finalmente, em março de 1972, o jogador anunciou que sairia do Cruzeiro. Insatisfeito, Felício Brandi estipulou um alto preço para a compra do passe de Tostão. Vários clubes desistiram, aos poucos, até que Vasco e Fluminense decidiram fazer um leilão pelo jogador. A proposta do Vasco ganhou: por Cr$ 3,3 milhões, Tostão foi para São Januário. Mas o que parecia um recomeço tornou-se um tormento: no ano seguinte, em março, após viagem a Houston para a retirada de uma membrana de silicone sobre a retina, Roberto Abdalla notou um processo virótico. Tostão teve de ficar em Houston mais alguns meses. Quando voltou, recebeu o diagnóstico: teria de abandonar o futebol, aos 26 anos, sob risco de ficar cego.

Decepcionado com o fim precoce da carreira e com algumas acusações dos dirigentes do Vasco, Tostão afastou-se do futebol. Não o renegou, mas preferiu levar a vida por outros caminhos. Após algum tempo, prestou vestibular para Medicina. Em 1981 formou-se, passando a atender em hospitais e até a dar aulas de medicina psicossomática. Não odiava o futebol, mas não se interessava por ele e recusava-se a falar sobre o assunto, salvo por algumas declarações esporádicas a revistas.

Isso durou até 1994. Já aposentado da Medicina, Tostão começou a se interessar novamente pelo futebol. Foi convidado para comentar a Copa do Mundo pela TV Bandeirantes. Aceitou, comentou e consolidou a reaproximação com o esporte. Ficou na Bandeirantes até 1996, quando foi para a ESPN Brasil, não só comentando, mas também apresentando o programa de entrevistas Um Tostão de prosa. Além disso, começou a escrever colunas sobre futebol para vários jornais brasileiros, como a Folha de S. Paulo.

Em 1999 Tostão deixou a ESPN Brasil. Embora faça algumas aparições esporádicas na televisão, preferiu concentrar-se na escrita: em 1997 lançou a autobiografia Tostão: lembranças, opiniões, reflexões sobre futebol, pela DBA. E continua escrevendo colunas para jornais, até hoje.

Bibliografia

ANDRADE, Eduardo Gonçalves (Tostão). A perfeição não existe. São Paulo: Três Estrelas, 2012.

ANDRADE, Eduardo Gonçalves (Tostão). Lembranças, opiniões, reflexões sobre futebol. São Paulo: DBA, 1997.

ARREGUY, Claudio. Os dez mais do Cruzeiro. Rio de Janeiro: Maquinária, 2010.

CASTRO, Marcos de; MÁXIMO, João. Gigantes do futebol brasileiro. São Paulo: Civilização Brasileira, 2011.

DUARTE, Marcelo; MENDES, Mário. Enciclopédia dos craques. São Paulo: Panda Books, 2010.

Ponta-de-lança, integrou a Seleção Brasileira nas Copas do Mundo de 1966 e 1970, sagrando-se nesta um dos conquistadores da Taça Jules Rimet. Atacante habilidoso, logo após a Copa de 70 abandonou o futebol por problemas visuais. Exerceu a medicina por vários anos e, desde 1994, trabalha como jornalista esportivo.

Por ter sido peça-chave na Copa em que atuou de maneira mais espetacular, e sem dúvida a mais memorável, 1970. Foi atacante habilidoso que superou as expectativas que foram depositadas nele.

Ao vê-lo conquistar o Tri em 1970, o jornalista escocês Hugh McIlvanney previu que seu perfil de craque seria o adotado pelo melhor futebol da Copa seguinte . De fato, Tostão não estaria nela (abandonaria a carreira um ano antes), mas a visão de jogo, a ocupação de espaços, a constante alternância de posições, a inteligência tática, tudo issoexercido com um primor de técnica individual, fariam dele o mais moderno jogador de sua época e uma antecipação do que Johann Cruyff e seu "Carrossel Holandês" exibiriam em 1974 na Alemanha.

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