Diversidade em campo: futebol LGBT+

futebol é uma língua universal”. Essa frase ganha ainda mais força a cada nova entrevista realizada no contexto do projeto Diversidade em Campo: Futebol LGBT+O projeto teve início em março de 2020 e é conduzido pela equipe do Centro de Referência do Futebol Brasileiro (CRFB). 

Um time de futebol composto por homens e mulheres posa para foto em um gramado. Muitos dos rapazes estão deitados na grama e fazem poses engraçadas. Atrás deles, aparecem bandeiras do arco-íris, símbolo do orgulho LGBT.
Equipe do Bharbixas na Champions LiGay. Foto: Acervo Museu do Futebol | Coleção Bharbixas EC | Douglas Barcelos.

Esse não é o primeiro projeto relacionado ao esporte LGBTQIA+ do Museu do Futebol. Em maio de 2017, em parceria com o Intermuseus e como parte da programação da 15ª Semana Nacional de Museus – IBRAM, a Biblioteca e Midiateca do CRFB foi sede do encontro Violências Indizíveis. A partir do tema “Museus e histórias controversas: dizer o indizível em museus”, membros de coletivos, pesquisadores e atletas LGBTQIA+ trouxeram reflexões sobre a representação de gênero dentro do futebol e do próprio museu. O evento resultou em um minidocumentário e no debate sobre como aumentar a visibilidade da luta e história LGBTQIA+ no acervo. 

Ao perguntarmos aos entrevistados os motivos pelos quais jogavam, suas lembranças mais marcantes e o que o futebol significava para cada um, era possível ver os olhos de todos brilharem, sem exceção. Para Ale Souza, integrante do Natus Futebol Clube (SP), o futebol representa a possibilidade de “ser um homem, com todas as características que eu tenho, pleno na sociedade”. Para Bernardo Gonzales, jogador trans masculino, o futebol sempre esteve presente em sua vida e é uma das formas de vivenciar e reivindicar a ocupação de certos espaços. Já para Lucas Bertullino, integrante do Cangayceiros Futebol Clube (CE), jogar no time está para além da diversão: é fazer parte de um espaço de inclusão e acolhimento. Não somos afeitas à generalização, mas se há uma maneira de sintetizar de forma genuína as experiências compartilhadas neste projeto, é esta: para os entrevistados, o futebol é uma forma de celebrar a própria existência, assim como a dos companheiros.   

Nada mais coerente, então, do que celebrarmos este projeto hoje, no Dia Internacional do Orgulho LGBT+. Para isso, trouxemos um pequeno compilado de curiosidades sobre os times de fut7 LGBT+ do Brasil. 

Um grupo de rapazes posa para foto segurando uma bandeira do time, os BigTBoys. A bandeira mostra um personagem musculoso e, por trás dele, as cores do arco-íris.
Jogadores do BigTBoys posam para fotografia. Foto: Acervo Museu do Futebol | Coleção BigTBoys FC | Direitos Reservados.
Um grupo de rapazes com uniforme azul e amarelo comemora um título em um pódio. Eles estão alegres e alguns têm nas mãos sinalizadores que soltam fumaça azul.
Time do Real Centro recebe troféu de campeão e comemora. Foto: Acervo Museu do Futebol | Coleção Real Centro FC | Direitos Reservados.

Como as equipes foram formadas?

Sabe aquele final de semana que você quer jogar bola e não tem um número suficiente de pessoas para formar um time? Normalmente, a primeira coisa que fazemos é procurar nas redes sociais algum colega ou conhecido que tope participar de um joguinho. Mas e se o número de pessoas for aumentando a cada semana e a frequência dos jogos também?  

No caso do BeesCats Soccer Boys (RJ), o começo foi através de uma matéria na televisão. Andre Machado, fundador e presidente da equipe, lembra que a principal influência para a criação do clube foi uma reportagem sobre o Unicorns Brazil (SP). Andre gostou tanto da ideia que convidou os amigos para montar um time. O sucesso do BeesCats foi tamanho que, em pouco menos de um mês, os jogos já atraiam cerca de 100 pessoas, entre jogadores e curiosos. 

A grande maioria dos times entrevistados no Diversidade em Campo começou através de grupos nas redes sociais. Algumas vezes, após um post com a seguinte pergunta: “Quem por aqui gosta de futebol e não se sente confortável para jogar por que tem receio do preconceito?”.  

Fundada em 2019, o BigTBoys é a primeira equipe formada por homens trans do estado do Rio de Janeiro. A sua criação foi uma iniciativa de Cristian Lins, produtor e fotojornalista. No time, o futebol é um espaço de visibilidade e inclusão que preza pela aceitação e pela identificação através do esporte. O BigTBoys já teve a sua história contada por diversos veículos de comunicação, inclusive internacionais, como os jornais Washington Post e Los Angeles Times. 

Mas eles seguiram as atividades durante a pandemia?

Assim como os demais setores da sociedade, os times de fut7 também tiveram sua dinâmica alterada em função da pandemia do COVID-19. Muitas foram as estratégias adotadas para manter a comunicação e integração entre diferentes equipes nesse período de distanciamento social. 

Alguns times optaram por engajar suas redes sociais, produzindo lives e campeonatos digitais pelo Instagram. Lucas Bertullino, jogador e dirigente do Cangayceiros Futebol Clube (CE), falou um pouco sobre a participação do time no Big Brother Bicha Brasil (2020), campeonato online organizado pelo Dendê Futebol Clube (BA). Foram cerca de 10 times participantes, de diferentes localidades do país – Salvador (BA), Manaus (AM), São Paulo (SP), Fortaleza (CE), Rio de Janeiro (RJ), Distrito Federal, dentre outros. As regras se assemelharam ao programa de inspiração: eliminação semanal com combinação de votos entre aqueles que se consideravam mais próximos. “Nós conseguimos ter uma visibilidade enorme através dessa competição”, relatou Lucas ao mencionar a vitória do Cangayceiros no campeonato e lembrar os poucos anos de idade do time, fundado em maio de 2019. 

Outra competição online que engajou times de diferentes regiões foi pela escolha do escudo mais bonito do Brasil (2020), organizada pela LiGay. A final foi disputada e chegou a mais de 6 mil votos – a competição inteira alcançou quase 100 mil votos! O Cangayceiros levou o primeiro lugar, seguido pelo Alcateia Esporte Clube (MG). 

Karyocas Club (RJ) também investiu nas lives e campeonatos digitais. A equipe preparou um calendário de lives em seu perfil no Instagram que passavam por temas como saúde mental, preparação física e técnica de atletas, arte drag queen e a importância da cobertura do jornalismo esportivo sobre pautas LGBTs. Além disso, lançou a Copa KaryoQuiz, um jogo que consistia em uma série de perguntas feitas a dois participantes, sendo o vencedor da edição aquele com maior número de acertos. O melhor do jogo ficava por conta das prendas: a cada dois erros, o jogador pagava uma prenda escolhida pelo comandante da brincadeira, Rodrigo Ziegler, zagueiro e vice-presidente do time.  

Além de transmissões online, os times também mantiveram o contato via grupos de WhatsApp compartilhando treinos, dicas e trocando figurinhas.  

Um grupo de mulheres joga bola em uma quadra. Vemos uma atacante de costas com camisa amarela e a bola no pé. O outro time veste laranja e se prepara para defender a jogada.
Equipe do Madalenas FC durante jogo. Foto: Acervo Museu do Futebol | Coleção Madalenas FC | Direitos Reservados.

Quer compartilhar sua história?

Já foram mapeadas 31 referências entre jogadores, campeonatos e times – com relação a esse último, são 12 equipes referenciadas em quatro estados distintosNo entanto, queremos aumentar esse número. Você faz parte de alguma equipe LGBT+ e gostaria de compartilhar sua experiência com o Museu do FutebolEntre em contato pelo email crfb@museudofutebol.org.br. 

Mapa do Brasil com os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Ceará e Pará marcados em cores distintas, mostrando onde foram mapeados times LGBT.

Ligia Dona e Dóris Régis
Assistente de Pesquisa e Assistente de Documentação – Biblioteca
Centro de Referência do Futebol Brasileiro


Deixamos aqui um agradecimento especial a todos os entrevistados
 e demais pessoas que contribuíram com concepção do projeto
Camila Aderaldo, Daniela Alfonsi, Lucas Tanabe e Mayara Akie. 

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